sábado, 24 de dezembro de 2016

Millie (Um conto de natal)

Saudações tripulantes do Star Hunter!


Não dá pra acreditar que já é natal! O tempo passou muito rápido e cá estamos nós de novo, nessa data tão querida e especial. Eu desejo a vocês um feliz natal! Reservem esse tempo para ficarem com suas famílias, agradecer a Deus por tudo o que ele tem dado a vocês e demonstrar carinho a todos a sua volta e "demonstrar carinho" nem sempre é dar o melhor presente...




As luzes coloridas do lado de fora da casa invadem meu quarto, é natal! Essa é definitivamente a melhor época do ano, para mim. Todos colocam sorrisos em seus rostos tristes e tentam fazer algo de bom para o outro. Eu estou quase pronto, nunca visto social, mas esse é um dia especial, o dia de pôr as melhores roupas. Olho para o espelho, alguns fios de cabelo caem sobre a minha sobrancelha, Millie sempre me fazia cortar o cabelo quando ainda morava conosco, hoje ela virá e não posso esperar para contar tudo o que aconteceu! Ela não vai acreditar que eu estou a apenas um ano da faculdade!
"Querido, desça! Seus tios chegaram!"- Posso ouvir minha mãe gritar. Minha família não era unida, mas no natal todos esqueciam suas diferenças, se reuniam em volta de uma mesa e presenteavam uns as outros. Sei o que está pensando... Como posso achar isso bom? O natal para nós é como um tratado de paz com validade, mas ainda é um tratado de paz. Tia Alice cuidou de mim quando eu era pequeno, minha mãe e ela sempre amaram muito uma a outra, mas meu tio não gosta de vir aqui, por isso elas brigam. Quando tia Alice cogitou se casar com tio Albert minha mãe ficou muito  triste, ele é um homem estranho, não gosta de nós e não se esforça muito para encobrir esse fato, digamos assim. Apesar de toda essa história, essa é a única época do ano que elas podem se encontrar e ter uma conversa agradável, afinal ninguém que estragar o "clima". Ajeito minha sufocante gravata e desço para a sala de jantar.
Lá está ela! Em seu típico moletom natalino e os cabelos ruivos presos em uma trança.
"Millie!"- Digo, correndo para seu abraço, antes tão grande e aconchegante. Não havia percebido quanto o tempo havia passado.
"Você cresceu, cowboy!- Ela bagunça meus cabelos em sinal de provocação. Não importa o quanto eu tenha crescido, ela sempre será minha irmã mais velha.
"Eu cuidei da sua picape, ela está impecável"
"Bom mesmo, baixinho. Eu quero ela perfeita quando eu voltar da faculdade"- Millie era a minha pessoa favorita, se é que posso ter uma pessoa favorita. Sempre a admirei e mesmo agora não era diferente.
Ela envolveu meu ombro com seu braço e saímos andando até a mesa, onde minha família estava reunida. Tia Alice acenou para mim alegremente do outro lado da mesa, contrastando o ar rabugento de tio Albert. Estávamos todos sorrindo e conversando, ao fundo tocava músicas da harpa cristã e os cheiros dos diversos pratos deliciosos sobre a mesa clamavam por nós. Estavam todos com os melhores trajes possíveis. Minha mãe havia prendido os cabelos em um coque elaborado, estava usando o colar de pérolas que pertencia a vovó, antes dela falecer no ano passado um dia depois do natal. Todos ficamos tristes nessa época, mas essa é a vida e a vida não é feita para ser perfeita.
Os jantares de natal sempre são famosos por serem os melhores do ano. As pessoas fazem os pratos com mais amor. Não é apenas um jantar, é um jantar de natal! E tem os presentes!Oh, os presentes... Não ganhei muitas coisas neste ano, mas ganhei coisas preciosas. Tia Alice me deu um exemplar em capa dura do "O senhor dos Anéis", meus pais me deram uma jaqueta de couro, mas Millie me deu o maior de todos os presentes.
Após a comilança e a troca de presentes, fomos para fora da casa. Ela andava com as mãos nos bolsos como sempre fazia e eu a acompanhava tagarelando sobre as últimas novidades. O clima estava frio, mas não o bastante para nos congelar. Millie caminhava até o quarto dos fundos com certa pressa, ela me ouvia com paciência, quando nem eu aguentava ouvir minha própria voz. Ela abriu um dos armários e tirou de lá a chave reserva da sua picape.
"Ei! Você já tem idade pra isso, não é?"- Perguntou olhando para a chave.
"Sim, desde..." Ela me interrompeu.
"Certo. Pode andar com ela até eu voltar"
"Millie, você tem certeza?"- Eu havia cuidado da picape por três anos e ela nunca me deixara encostar no acelerador.
"Sim, cowboy"- Ela riu- "Até porque eu volto no ano que vem, então não se empolgue muito"
"Você volta ano que vem?"- Millie concordou com a cabeça.
"Mas não conte aos nossos pais... Eu vou fazer uma surpresa, tudo bem?"- Aquele carro era muito especial para todos nós. Foi o primeiro carro do meu pai, da Millie e agora, mesmo que por um ano, seria meu. Ela não estava me dando chaves qualquer, ela estava me dando todas as lembranças que nós tínhamos ali, parte de nossa história estava ali. Minha irmã estava olhando no fundo dos meus olhos e entregando aquelas chaves porque ela confiava em mim, porque ela me amava e isso era a melhor coisa que acontecera o ano todo! O amor foi o melhor presente que recebi aquela noite! Tudo começou com o amor, o natal é sobre isso.
Apesar de termos nossos medos, inseguranças, raivas, preocupações, ansiedades e tudo de mal que podemos sentir em 365 dias, ainda teremos um dia para nos sentar com nossos familiares, trocarmos sorrisos e presentes, generosos pratos saborosos, mas principalmente para podermos distribuir amor.
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Em meio aos fogos, risos, beijos e abraços, vejo minha família feliz, até tio Albert abre um sorriso! Eu olho pro céu e vejo os fogos de artifício explodirem em cores e alegria que só o natal poderia proporcionar. Em mais alguns dias um novo ano iria começar e aquele ano ia ser demais.


Warm Wishes

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